As técnicas de reprodução assistida são três atualmente, em ordem crescente de complexidade: relações sexuais programadas, inseminação intrauterina e fertilização in vitro (FIV). Dessas três, a FIV é a única que faz a fecundação em laboratório. Nas demais, a fecundação acontece dentro das tubas uterinas.
Há duas formas principais de fazer a fecundação em ambiente laboratorial: o método clássico e a injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), que é o mais moderno. Quer saber mais sobre eles? Acompanhe!
As 6 etapas da fertilização in vitro
Para fins didáticos, podemos resumir todo o processo da FIV em seis etapas:
- Estimulação ovariana: com a administração de medicamentos com ação direta ou indireta sobre os ciclos foliculares, é possível aumentar o número de folículos que chegam ao estágio final de maturação. No entanto, a resposta ovariana varia de uma mulher para outra, então o número de óvulos obtidos também varia;
- Coleta e preparo dos gametas: na mulher, é feita a aspiração dos gametas com uma punção ovariana guiada por ultrassonografia. Já o homem faz a coleta do sêmen, o qual será preparado para a capacitação e seleção dos espermatozoides. Dependendo do caso, os gametas masculinos podem ser obtidos de forma invasiva diretamente dos testículos ou do epidídimo;
- Fecundação: é a fusão de um espermatozoide com um óvulo, — este é o tema do nosso post e será aprofundado mais à frente;
- Cultivo embrionário: depois de ser formado em laboratório, o crescimento inicial do embrião ocorre fora do útero. Ele é monitorado até que atinge entre 3 e 6 dias de desenvolvimento;
- Transferência para o útero: por fim, pela via transvaginal (na maior parte dos casos), o embrião é colocado dentro do útero;
- Manutenção da fase lútea: para que o embrião se fixe e se desenvolva ao longo da gestação, o endométrio precisa estar receptivo. Para isso, administramos progesterona ou hCG. Isso é fundamental para a manutenção da gravidez.
A gestação se inicia quando esse embrião é capaz de se fixar no endométrio (nidação) e desenvolver as estruturas necessárias para a sua sobrevivência intraútero.
O que é a fecundação na FIV?
A fecundação na FIV pode ocorrer a partir de duas técnicas diferentes:
- Método clássico — os gametas masculinos e femininos são colocados em um meio de cultura próprio. O encontro e a fusão deles ocorrerá espontaneamente, isto é, sem intervenção humana. O evento da fecundação é provocado pelos batimentos da cauda dos espermatozoides até que algum deles seja capaz de perfurar a membrana celular dos óvulos e fundir o seu material genético com essa célula;
- Injeção intracitoplasmática de espermatozoide— a fusão dos gametas é feita por uma intervenção médica. Com uma agulha microscópica, a membrana plasmática do óvulo é perfurada e o espermatozoide é injetado dentro do citoplasma do óvulo.
Por se tratar de um método mais controlável, a ICSI tem sido cada vez mais utilizada nos protocolos da FIV.
O que é a ICSI?
É um dos procedimentos de fecundação laboratorial disponíveis para os protocolos de FIV, — todas as demais etapas permanecem inalteradas. É um método de alta eficiência, muito versátil.
Ele é realizado com o auxílio de microscópios e micromanipuladores. Isso traz algumas vantagens. Como é feita a amplificação visual dos espermatozoides em até 12500 vezes, é possível identificar eventuais anormalidades antes de eles serem identificados.
Apesar de ser um exame muito importante na reprodução assistida, o espermograma não é capaz de identificar algumas alterações mais sutis na morfologia dos espermatozoides. Com isso, mesmo após o preparo seminal, ainda podem ser selecionadas células com menor viabilidade. No método tradicional, elas não são identificadas e acabam sendo utilizadas.
Indicações da ICSI
A princípio, a ICSI foi desenvolvida para quando há uma pequena quantidade de espermatozoides disponível. Por esse motivo, é a técnica mais utilizada em fatores de infertilidade masculina, isto é, quando as seguintes alterações graves, como:
- Oligozoospermia: pequena quantidade de espermatozoides no sêmen;
- Azoospermia: ausência de espermatozoides no sêmen. Para isso, são utilizadas técnicas de recuperação de gametas diretamente dos túbulos seminíferos dos testículos (local de produção) ou dos epidídimos (ductos responsáveis pelo armazenamento e amadurecimento inicial);
- Teratozoospermia: proporção muito alta de espermatozoides com problemas na forma;
- Astenozoospermia: proporção muito elevada de espermatozoides com incapacidade de gerar movimentos suficientes ou direcionais.
Assim, é indicada para homens com as causas de infertilidade:
- História de cirurgia esterilizante, a vasectomia;
- Varicocele;
- Malformação do sistema reprodutor masculino, entre outras possibilidades;
- Doenças infecciosas escrotais;
- Infertilidade autoimune;
- Dificuldades ejaculatórias.
Também pode ser utilizada em outras indicações, como:
- Mulheres solteiras, casais homoafetivos ou heteroafetivos que utilizaram sêmen doado;
- casos de repetição de falhas em outros ciclos da FIV e da inseminação intrauterina (IIU);
- Número baixo de óvulos obtidos pela punção ovariana;
- Preservação oncológica da fertilidade masculina;
- Utilização de sêmen criopreservado.
Esses casos representam uma proporção significativa das indicações da FIV de modo geral. Com isso, assim como o fato de ser um método mais controlável, a ICSI tem se tornado mais utilizada do que a fecundação com o método tradicional. Ela apresenta uma excelente taxa de sucesso, podendo ser empregada com outros procedimentos complementares da FIV.
Quer saber mais sobre o tema? Confira este nosso artigo institucional completo sobre a injeção intracitoplasmática de espermatozoide!