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Doença de Alzheimer

Por: Dra. Joana Azevedo Oliveira

A doença de Alzheimer é a condição de maior incidência entre as patologias geriátricas. Trata-se de um quadro neurodegenerativo progressivo que faz parte do grupo das demências, as quais envolvem a deterioração das funções cognitivas, com consequente declínio funcional e perda gradual de autonomia — em estágios de comprometimento severo, a pessoa pode depender totalmente do cuidado dos familiares.

A memória é a principal função afetada pelo mal de Alzheimer, mas, conforme a doença progride, o raciocínio, a linguagem e até o comportamento são impactados. Isso se reflete na incapacidade de desempenhar as atividades de vida diária e na manifestação de vários distúrbios comportamentais e sintomas neuropsiquiátricos.

O paciente com Alzheimer é acompanhado por um especialista em geriatria. Essa área médica é voltada para o atendimento de pessoas com mais de 60 anos, fase da vida em que há uma suscetibilidade maior para alguns quadros específicos, como as demências.

No acompanhamento geriátrico, vários aspectos são avaliados, como déficits cognitivos, funcionalidades e autonomia do idoso. Esse paciente não é observado somente em relação à sua patologia, mas requer um olhar médico mais abrangente, considerando os impactos de sua condição e os riscos envolvidos.

Um ponto essencial no atendimento ao paciente com Alzheimer é a participação da família, visto que a doença pode alterar a cognição do idoso e distorcer sua consciência de realidade atual. Assim, os familiares assumem um importante papel na comunicação médico x paciente. Vale dizer que essa não é um regra para todas as patologias geriátricas, pois boa parte das pessoas com idade avançada conserva plenamente a lucidez.

Causas e fatores de risco

A doença de Alzheimer é resultante de danos cerebrais que ocorrem ao longo do tempo, portanto um processo degenerativo e irreversível. Não se sabe exatamente quais mecanismos contribuem para isso, mas parece haver componentes ambientais, metabólicos e genéticos envolvidos. Tendo isso em vista, diversos genes têm sido estudados em busca de uma maior compreensão das causas dessa patologia.

Contudo, alguns fatores de risco são observados nos casos de Alzheimer:

  • idade;
  • gênero feminino;
  • história familiar;
  • baixo nível de escolaridade;
  • hipertensão arterial na meia-idade;
  • diabetes;
  • tabagismo;
  • inatividade física e cognitiva;
  • depressão;
  • baixo suporte social;
  • solidão, falta de relacionamento conjugal ou de contato com familiares.

Por outro lado, alguns dos fatores protetores são: gênero masculino; nível educacional elevado; atividades diárias com estimulação cognitiva; programas de lazer e vida social ativa; rede de apoio emocional (cônjuges, familiares e amigos); prática regular de exercícios físicos; dieta rica em vitaminas e antioxidantes.

Sintomas

A apresentação clínica e a progressão do Alzheimer são variáveis, uma vez que a capacidade cognitiva de cada paciente é afetada de modo distinto. Evidências de esquecimento, alterações de personalidade e falhas no autocuidado são indícios do quadro.

O comprometimento da memória recente é o sintoma mais precoce e, nas fases iniciais, é revelado pela dificuldade em recordar datas, nomes de pessoas e fatos ocorridos recentemente. Os sinais aparecem em tarefas simples do dia a dia, quando o paciente começa a esquecer onde deixou objetos, onde guardou dinheiro, como fazer um procedimento habitual (como cozinhar), apresenta conversas repetitivas etc.

No déficit cognitivo leve, os sinais podem ser bastante sutis, sem perda de funcionalidade, tanto que a família ainda não consegue identificar. Já no estágio moderado, podem ocorrer indícios mais sérios, como sair de casa e não lembrar o caminho de volta, ter dificuldade para lembrar palavras (prejuízo na linguagem) e coordenar movimentos, perambulação, agitação, entre outros.

Na forma grave do Alzheimer pode surgir incontinência urinária e fecal, dificuldade para se alimentar, resistência para realizar atividades rotineiras e declínio progressivo nas funções motoras.

Por fim, na fase terminal da doença, o idoso pode ficar restrito ao leito e totalmente dependente para executar as atividades de vida diária, além de não reconhecer pessoas próximas, não falar e ficar suscetível a infecções — as quais normalmente representam as causas de morte desses indivíduos.

Diagnóstico

O atendimento aos pacientes com suspeita de Alzheimer é individualizado e requer investigação minuciosa da história clínica e das características atuais — com quem mora, hábitos de vida, capacidade funcional, limitações, comorbidades etc.

Na investigação do quadro, são aplicados alguns testes, um deles é a escala Mini-Mental State Examination, ou Mini-Exame do Estado Mental (MEEM). O teste contém 30 questões que avaliam diversos aspectos — atenção, memória, linguagem, orientação temporal e espacial, cálculo, capacidade de nomeação e compreensão, obediência a comando verbal e escrito, habilidade para escrever uma sentença e fazer a cópia de um desenho complexo (uma figura geométrica).

A nota de corte para o diagnóstico difere conforme o nível educacional, sendo de 18 pontos para analfabetos e 23 pontos para pacientes com estudo. Contudo, os resultados do teste podem ser alterados por algumas condições específicas, a exemplo da depressão.

Diante dessa suspeita, os sinais de transtorno depressivo também são investigados. Se confirmado o quadro, o paciente é encaminhado para o tratamento psicológico e medicamentoso e, após a melhora dos sintomas de depressão, o Mini-Mental é novamente realizado para melhor avaliação da memória.

Outra escala é utilizada para avaliar as funcionalidades básicas do paciente, isto é, suas condições para executar tarefas de autocuidado, como ir ao banheiro sozinho, vestir-se, sentar-se e levantar-se sem ajuda, fazer suas refeições, entre outras ações.

Ainda com relação às atividades de vida diária, são avaliadas as capacidades instrumentais do idoso, o que inclui tarefas desempenhadas dentro e fora de casa — exemplos: usar o telefone, andar de ônibus etc. Essas informações são dadas pelo paciente e confirmadas com familiares que o acompanham no dia a dia, pois com a demência o paciente muitas vezes não percebe algumas perdas e alterações.

O diagnóstico de Alzheimer é considerado possível ou provável. Somente no exame post mortem, com a análise anatomopatológica do cérebro, é que se pode concluir que se tratava desse quadro neurodegenerativo.

Tratamento

Por enquanto, não há tratamento que possa reverter ou paralisar os danos progressivos da doença de Alzheimer. Algumas intervenções podem ser feitas visando a redução dos sintomas, mas estudos ainda são realizados com o intuito de desenvolver medicamentos seguros e eficazes que possam controlar essa enfermidade.

Os cuidados atuais se baseiam na amenização de alguns sintomas e no apoio às diferentes necessidades do paciente — médicas, psicológicas e funcionais —, o que requer um acompanhamento multidisciplinar. Os familiares mais próximos que garantem os cuidados ao idoso com Alzheimer também carecem de atenção profissional, dado o fato de que a doença pode afetar os membros da família indiretamente.

Vale ressaltar que a geriatria não se baseia somente no tratamento da patologia, mas também na promoção de saúde ao idoso. Apesar da propensão aumentada para o desenvolvimento de doenças, é possível assumir condutas para envelhecer com qualidade de vida — e o acompanhamento geriátrico tem essa finalidade.