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Estimulação ovariana e indução da ovulação

Por: Dra. Fabrícia Leal Zaganelli

A estimulação ovariana e a indução da ovulação são procedimentos essenciais em todas as técnicas de reprodução assistida. São utilizadas na relação sexual programada (RSP), inseminação intrauterina (IIU) e na fertilização in vitro (FIV), adaptadas de acordo com as necessidades de cada técnica e de cada paciente.

O objetivo dos procedimentos é aumentar o número de folículos desenvolvidos no ciclo, ocasionando a maturação de um número maior óvulos disponíveis para a fecundação. Cada técnica utiliza um protocolo diferente, possuindo assim uma dosagem hormonal diferenciada para cada caso.

Métodos de menor complexidade, como a RSP e a IIU, em que a fecundação acontece dentro do útero, recebem uma quantidade menor de medicamento hormonal, pois o objetivo é alcançar de 1 a 3 folículos. Já a FIV, que possui métodos mais complexos e a fecundação acontece em laboratório, necessita de um número maior de folículos para o procedimento, por isso a dosagem hormonal é aumentada.

Como a estimulação ovariana e a indução da ovulação são feitas?

A mulher nasce com uma certa quantidade de folículos nos ovários, que tendem a se desenvolver durante a vida reprodutiva, liberando os óvulos. Durante o ciclo menstrual, controlado pelos hormônios dos ovários, cuja produção é estimulada pela hipófise, vários folículos são preparados para se desenvolver, porém apenas um deles se rompe e libera o óvulo, na chamada ovulação.

Inicialmente, o sistema reprodutor da mulher é avaliado por ultrassonografia para investigar a reserva ovariana e ter uma previsão de como será a resposta do organismo ao tratamento. Esse processo acontece no início da menstruação e, quando identificada alguma alteração, pode ser tratada previamente.

Os hormônios utilizados no tratamento são semelhantes aos naturais, porém em dosagem maior. Os principais utilizados no processo são o folículo-estimulante (FSH), o luteinizante (LH) e a gonadotrofina coriônica humana (hCG). Eles possibilitam que os folículos que seriam preparados e não liberariam o óvulo em seu interior se desenvolvam e liberem seus óvulos normalmente.

Uma curiosidade: o processo de estimulação ovariana não reduz a reserva ovariana. Em todos os ciclos menstruais a mulher perde um número elevado de folículos. O que as técnicas de reprodução assistida fazem é aproveitar ao máximo esses folículos que crescem durante todos os ciclos menstruais e não liberam seu óvulo.

Casos em que a mulher tem problemas de ovulação, a estimulação pode ajudar estimulando os ovários a produzirem pelo menos um folículo para desenvolvimento.

A estimulação tem início nos primeiros dias do ciclo menstrual da mulher e dura de 8 a 12 dias. Todo o processo é monitorado por ultrassonografias transvaginais, para que seja identificado o momento ideal para a indução da ovulação, também com medicamentos hormonais. Após a dosagem hormonal, os folículos se rompem, liberando os óvulos.

Técnicas de baixa complexidade

As técnicas possuem suas particularidades no tratamento, por isso cada uma delas segue um protocolo para definir a quantidade de hormônios utilizados no procedimento. Na RSP e na IIU, que são de baixa complexidade, a fecundação acontece dentro do útero e por isso não é possível definir quantos óvulos serão fecundados.

Portanto, a estimulação do ciclo é mínima, uma vez que a previsão para esses casos é de 1 a 3 folículos para que sejam boas as chances de gravidez. Essa medida é tomada também para que sejam minimizadas as chances de gravidez múltipla ou outras complicações.

Técnicas de alta complexidade

Na FIV, a fecundação acontece de forma extracorpórea e isso exige uma quantidade maior de folículos disponíveis para o tratamento. Após a indução da ovulação, ocorre a punção ovariana para retirar os gametas e realizar a fecundação em laboratório. Quando os óvulos obtidos não são aproveitados no ciclo, é possível optar pela criopreservação, na qual são congelados para uso posterior.

Ainda que sejam coletados muitos óvulos com a estimulação e sejam todos fecundados durante a FIV, existe um regulamento em relação à transferência dos embriões. O Conselho Federal de Medicina (CFM) determina que há uma quantidade máxima de acordo com a idade da mulher:

  • mulher com até 35 anos – até 2 embriões;
  • mulher com 36 a 39 anos – até 3 embriões;
  • mulher com 40 anos ou mais – até 4 embriões.

Nesses casos, quando houver uma quantidade maior de embriões disponível pelo tratamento, o casal pode optar pela doação ou criopreservá-los para utilizar em outro momento. É obrigatório o congelamento de embriões por pelo menos 3 anos.

Existem riscos na estimulação ovariana e na indução da ovulação?

Um dos riscos associados à estimulação ovariana é a gravidez múltipla. Por se tratar de um número maior de folículos disponíveis, existe a possibilidade de mais de um óvulo ser fecundado e de mais de um embrião se fixar no endométrio, causando a gestação múltipla. Ela pode oferecer riscos maiores, tanto para a mãe quanto para os fetos. Isso inclui maior chance de abortamento e parto prematuro.

Outra condição possível, apesar de ser considerada rara, é a síndrome do hiperestímulo ovariano (SHO). Devido à maior quantidade de hormônios no organismo, é possível que os ovários produzam uma quantidade hormonal exagerada. Essa condição pode gerar alterações como a hipertrofia dos ovários, alterações metabólicas, excesso de líquido na região abdominal e nos pulmões e distúrbios da coagulação sanguínea.

Por isso, todo o processo deve ser acompanhado por especialistas, levando sempre em consideração a individualidade da paciente. Os exames realizados para avaliar o sistema reprodutor da mulher também são essenciais para definir a quantidade de medicamentos necessária para uma estimulação ovariana eficaz.

A estimulação ovariana e a indução da ovulação são realizadas com o objetivo de alcançar a gravidez e obter maior chance de sucesso no tratamento da infertilidade. Por esse motivo, são tomadas todas as precauções para que o procedimento seja um sucesso e o casal alcance a tão sonhada gravidez.