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Dedo em gatilho

Por: Dr. Sonival Azevedo Oliveira

Dedo em gatilho é a denominação popular de uma condição chamada tenossinovite estenosante dos flexores. O movimento que fazemos para esticar e dobrar os dedos é possibilitado por estruturas como os tendões flexores. Em seu trajeto até a ponta dos dedos, esses tendões passam por dentro de pequenos túneis chamados polias.

Alguns processos inflamatórios podem causar redução da polia, diminuindo a capacidade do túnel em relação ao volume do tendão. Nesses casos, ocorre a formação de um nódulo no tendão ao nível da articulação metacarpofalangiana, causando a dificuldade de movimentar o dedo.

A sintomatologia varia de leve desconforto à dor intensa, além do inchaço que também interfere nos movimentos necessários para dobrar ou esticar o dedo afetado.

Tal problema pode levar à perda da função das mãos e prejudicar o desempenho das atividades laborais ou de vida diária. Com mais frequência, são acometidos os dedos anelar e polegar da mão dominante, mas a inflamação também pode atingir os demais.

As mulheres são mais afetadas que os homens, com risco maior nos períodos de gravidez, puerpério e menopausa devido às alterações hormonais e à retenção de líquido.

 Causas do dedo em gatilho

A etiologia dos dedos em gatilho é desconhecida, mas existem várias causas secundárias e fatores de risco envolvidos. Atividades manuais relacionadas às funções profissionais, à prática de esportes ou mesmo às tarefas domésticas configuram fator de risco quando exigem movimentos repetitivos e preensão forçada. Algumas doenças associadas são:

  • artrite reumatoide;
  • síndrome do túnel do carpo;
  • tenossinovite de De Quervain;
  • diabetes mellitus;
  • gota;
  • hipotireoidismo;
  • alguns tipos de infecções.

Sinais e sintomas que o dedo em gatilho provoca

Inicialmente, o paciente pode experimentar um desconforto que se evidencia na palma da mão e na base dos dedos, assim como dor moderada e sensibilidade à palpação. Também é possível localizar nódulos nessa região, conforme a doença progride. Aos poucos, nota-se o inchaço no dedo acometido, dor no trajeto dos tendões flexores e prejuízos na movimentação do dedo.

Com o agravamento do quadro, o dedo pode ficar completamente travado na posição de flexão, de modo a impossibilitar algumas funções manuais, como a preensão de objetos. Os sintomas podem ser mais evidentes ao acordar, uma vez que a mão permaneceu por algumas horas em inatividade.

É mais comum que apenas um dedo seja comprometido, mas em alguns casos pode haver o acometimento de dois na mesma mão, ou as duas mãos podem ser prejudicadas. Isso depende das morbidades associadas.

Avaliação diagnóstica

O diagnóstico do dedo em gatilho é feito a partir do exame clínico, que inclui a triagem dos sintomas e a palpação. A presença de nódulos, assim como o travamento do dedo mediante movimentos de flexão e extensão são características determinantes do quadro.

Ultrassonografia, ressonância magnética e até a radiografia podem ser indicadas para diagnóstico diferencial quando houver suspeita de outras patologias. Ultrassonografia e ressonância costumam mostrar espessamento da polia flexora A1 e tenossinovite dos flexores.

O dedo em gatilho é classificado com base em sua gravidade, podendo ser diagnosticado como:

  • grau I, pré-gatilho: existe dor e inchaço, mas não ocorre o travamento do dedo;
  • grau II, ativo: existe o bloqueio, mas o paciente ainda consegue esticar o dedo;
  • grau III, passivo: ocorre o travamento e o paciente não consegue dobrar ou esticar o dedo ativamente, sendo necessário usar a outra mão para movimentá-lo;
  • grau IV: ocorre a contratura fixa do dedo, ficando o paciente impossibilitado de movimentá-lo de qualquer forma.

Formas de tratamento para pacientes com dedo em gatilho

O tratamento do dedo em gatilho é feito com o objetivo de reduzir o inchaço e a inflamação do tendão flexor para facilitar a movimentação do dedo.

Os pacientes com quadros leves são orientados a evitar atividades manuais que piorem os sintomas. Uso de compressa morna no local, massagem para aliviar o edema e exercícios de alongamento também podem ser úteis. Corticoides de depósito, por via intramuscular, costumam causar alívio importante em pacientes sem contraindicações a esses medicamentos.

A Terapia Ocupacional ou Fisioterapia bem feitas são fundamentais para os bons resultados do tratamento conservador.

Nos casos mais graves, quando há bloqueio e dificuldade de movimentação, pode ser tentada infiltração local com injeção de corticosteroides e lidocaína. Após a aplicação, o paciente deve tomar alguns cuidados, como:

  • manter repouso nos dias subsequentes à infiltração, evitando movimentos de preensão;
  • usar órtese extensora;
  • tomar analgésicos e aplicar calor no local;
  • conforme as funções laborais, pode ser preciso usar luvas específicas e ferramentas adequadas para evitar impactos e vibrações.

Se o paciente não responder às terapias conservadoras, é indicado o tratamento cirúrgico. A cirurgia é feita por meio de uma incisão na palma da mão, bem próxima à base do dedo, por onde se tem acesso à polia para realizar sua abertura e desbloquear o tendão.

A cirurgia do dedo em gatilho costuma ser bem sucedida e sem chances de recidiva, embora o problema possa reaparecer em outro dedo quando há fatores de risco para isso.