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Demência associada à doença de Parkinson

Por: Dra. Joana Azevedo Oliveira

A demência associada à doença de Parkinson é uma condição mais comum do que parece, com maior incidência entre idosos com parkinsonismo avançado. Na visão médica, as demências se caracterizam por uma deterioração das funções cognitivas, com perda de funcionalidade.

Nos quadros de demência — como a doença de Alzheimer, que é a mais comum —, gradualmente, os pensamentos, a atenção, a memória e as capacidades executivas da pessoa vão degenerando, até o ponto em que ocorre a total perda de autonomia e o idoso passa a depender integralmente de cuidadores.

Por sua vez, a doença de Parkinson também é uma patologia progressiva, mas que envolve prejuízos motores, incluindo tremor de repouso, rigidez, lentidão de movimentos (bradicinesia), e alterações posturais (dificuldade de equilíbrio).

As limitações impostas pelo parkinsonismo levam à incapacidade física e psíquica, além do comprometimento cognitivo que já é comum nesse quadro, mesmo sem demência associada. Contudo, pacientes com Parkinson apresentam risco até seis vezes maior de desenvolver demência, em comparação com outras pessoas da mesma idade.

Causas e fatores de risco

As demências neurodegenerativas são desencadeadas pela perda progressiva de neurônios. Ainda não se sabe claramente o que provoca a morte das células nervosas, mas estão relacionados componentes genéticos e ambientais.

Como fatores de risco para o desenvolvimento da demência associada ao parkinsonismo, podemos considerar:

  • idade avançada — idosos com mais de 80 anos são os mais afetados;
  • funções cognitivas já comprometidas no início da doença de Parkinson;
  • rápido avanço da doença;
  • alucinações precoces, induzidas por levodopa (medicamento utilizado no tratamento de Parkinson);
  • funções motoras gravemente comprometidas, com predominância de bradicinesia ou padrão misto — tremor e bradicinesia.

Sinais e sintomas

As formas de apresentação das demências têm semelhanças nos diferentes tipos da doença. No quadro associado ao parkinsonismo, somam-se os sintomas motores que são típicos dessa patologia. Em suma, os sinais da demência pelo Parkinson incluem:

  • diminuição ou perda de iniciativa para realizar atividades habituais;
  • lentidão para processar informações;
  • prejuízos na memória;
  • alterações na percepção visual e espacial;
  • dificuldades para recordar, organizar e listar palavras;
  • incapacidade na resolução de problemas.

De forma mais detalhada, e para facilitar a avaliação dos critérios diagnósticos, as características clínicas são divididas em cognitivas e comportamentais:

Manifestações cognitivas

Todos os aspectos cognitivos são afetados em algum nível pela demência associada ao Parkinson. Em tarefas que exigem atenção, espontânea e focal, o desempenho é geralmente baixo e pode ser flutuante. Já a memória é mais prejudicada na evocação livre, principalmente de fatos e dados recentes, do que na capacidade de reconhecimento. Quanto à linguagem, ocorrem dificuldades para encontrar as palavras e compreender sentenças complexas.

Também há prejuízos na percepção, o que compromete as atividades que requerem orientação visuoespacial e habilidades construtivas. Por fim, a doença tem forte impacto nas funções executivas, limitando a velocidade mental e a capacidade de iniciativa, planejamento, conceitualização, seguimento de regras e adaptação a um novo contexto.

Manifestações comportamentais e psicológicas

Alterações emocionais, psiquiátricas e comportamentais também fazem parte dos sintomas da demência associada à doença de Parkinson. Nesse sentido, encontramos: apatia — desinteresse, desmotivação, redução da espontaneidade; mudanças no humor, incluindo características de ansiedade e depressão; alucinações visuais; delírios; sonolência excessiva durante o dia.

Diagnóstico

A fim de conhecer de modo aprofundado as características do caso e o perfil do paciente, a avaliação clínica é extensa. Na consulta com o médico especialista em geriatria, a anamnese é o primeiro passo para coletar as informações necessárias sobre o idoso, como:

  • história clínica completa;
  • comorbidades, medicamentos que toma e acompanhamentos médicos que faz;
  • histórico familiar de doenças graves;
  • situação de vida atual;
  • sintomas e alterações que tem manifestado;
  • capacidades funcionais e limitações.

Somados à investigação clínica geral, são utilizados instrumentos de avaliação dos quadros demenciais, incluindo: a escala Mini-Mental State Examination (MMSE), um exame que avalia as condições cognitivas do paciente, principalmente a memória; a escala AVD – Atividades da Vida Diária, que avalia o desempenho do idoso em relação às funcionalidades básicas (autocuidado) e instrumentais (administração de tarefas dentro e fora de casa).

Na investigação do quadro, observam-se alguns critérios diagnósticos, os quais incluem:

  • doença de Parkinson apresentada antes do quadro demencial;
  • parkinsonismo associado a prejuízos em pelo menos dois domínios cognitivos (memória episódica, atenção, funções executivas e habilidades visuoconstrutivas);
  • déficits graves a ponto de comprometer as funcionalidades da vida diária do paciente — nos sentidos ocupacional, social e de autocuidado.

Tratamento

O objetivo do tratamento é promover o controle das dificuldades motoras e cognitivas e contribuir para a sobrevida do paciente. A principal terapia para a doença de Parkinson é farmacológica e baseia-se no uso de levodopa. Outros medicamentos com ação dopaminérgica também são apontados na intervenção desse quadro, como os inibidores da colinesterase e da memantina.

Contudo, algumas drogas antiparkinsonianas, incluindo levodopa, podem ter efeitos colaterais neuropsiquiátricos e predispor ou agravar a ocorrência de alucinações — sintoma que já pode estar presente em alguns tipos de demência. Sendo assim, o manejo do quadro demencial com parkinsonismo requer uma rigorosa avaliação e o trabalho em conjunto dos profissionais de geriatria e psiquiatria.

Assim como em outras condições geriátricas, o tratamento da demência associada à doença de Parkinson demanda orientação aos familiares e cuidadores — bem como o apoio a eles — para o alcance de resultados mais benéficos.