A dermatite atópica é uma doença inflamatória, de caráter crônico, que acomete a pele. É uma condição de origem multifatorial, caracterizada principalmente por prurido intenso (coceira) e pele seca ou extra seca — distúrbio cutâneo chamado de xerose ou xerodermia.
A prevalência mundial varia entre 1% e 20%. No Brasil e nos demais países da América Latina, estima-se que 10,6% dos adolescentes e 11,3% das crianças sejam afetados pela dermatite atópica. Com frequência, a doença aparece já nos primeiros anos de vida, mas pode se estender ou reaparecer em ocasiões futuras.
Quando as exacerbações da dermatite (lesões graves) ocorrem na adolescência, podem associar dificuldades emocionais, devido ao impacto na autoestima e na capacidade de socialização do jovem. Nos casos mais acentuados, observa-se que os efeitos da doença na qualidade de vida dos pacientes é marcante.
A dermatite atópica é comumente confundida com urticária, mas as manifestações são diferentes. A urticária é marcada por lesões que desaparecem rapidamente após a administração dos medicamentos. Nos casos de dermatite, as áreas afetadas apresentam lesões por tempo prolongado, o tratamento é demorado e requer acompanhamento multidisciplinar.
Causas e fatores de risco
Essa é uma doença de caráter genético importante e está associada à uma mutação no gene da Filagrina — uma proteína essencial para a formação e manutenção da barreira cutânea. Há deficiência na hidratação dessa barreira, bem como na junção adequada das células que compõem o tecido. Portanto, a pele do indivíduo fica mais suscetível a penetração de alérgenos, substâncias irritantes e microrganismos (sobretudo o Staphylococcus aureus).
A doença não é comumente causada por fatores psicológicos, mas está associada a eles devido aos impactos, como vergonha, inibição, isolamento social etc. Contudo, existem casos raros em que algum evento com alta carga de estresse emocional tenha sido o estopim para o desenvolvimento da dermatite.
Também pode haver uma piora dos sintomas quando a pessoa com dermatite é exposta a situações altamente estressoras ou ansiogênicas. Entretanto, os gatilhos emocionais não representam um fator desencadeante isolado, mas aumentam o risco de uma exacerbação da dermatite quando combinados a outros fatores.
Em síntese, a doença pode ser provocada por alteração genética associada à predisposição individual e aos fatores ambientais, os quais ocasionam a sensibilização alérgica. Alguns pacientes graves podem desenvolver a dermatite atópica concomitantemente a quadros de asma e alergia alimentar.
Sintomas da dermatite atópica
A lesão característica da dermatite atópica é o eczema, que se manifesta de formas diferentes, conforme a idade. No primeiro ano aparece como um eczema agudo que acomete as regiões extensoras dos membros, o abdome, a face, o pescoço e o couro cabeludo — embora também possa se espalhar por outras partes do corpo.
Por serem lesões agudas, se apresentam avermelhadas e úmidas. A pele como um todo fica mais áspera e ressecada. Esse é o caráter das manifestações iniciais, mas conforme a criança cresce, a dermatite altera suas características, passando a lesões mais frequentes em regiões flexoras (cotovelos, joelhos), mãos, pés e tornozelos. Além disso, a pele apresenta uma aparência mais descamativa.
O sintoma mais incômodo da dermatite atópica é o prurido, que apresenta um ritmo diário, podendo ser mais intenso à noite. Isso tende a prejudicar a qualidade do sono e até acarretar a inversão do período de descanso. Outro agravante é o risco aumentado para infecções bacterianas, fúngicas e virais.
Quando os eczemas persistem na fase da adolescência, predomina a formação de placas, que podem aparecer nos punhos, dorso das mãos, pescoço, pálpebras inferiores e outras áreas do corpo. Essas manifestações impactam adversamente o estado psicológico do adolescente, uma vez que se tornam motivo de bullying, não aceitação no grupo social e preconceito (alguns acreditam que o problema é contagioso).
Avaliação diagnóstica
O diagnóstico é centrado na apresentação clínica da dermatite atópica. Entre os critérios de avaliação, a história do paciente é investigada considerando as seguintes manifestações:
- prurido intenso;
- pele seca generalizada;
- início das lesões antes dos 2 anos;
- história pessoal de asma ou rinite alérgica;
- história de doença atópica em parente de primeiro grau.
A dermatite atópica, como condição crônica, apresenta períodos de remissão e exacerbação. Levanta-se a questão do início precoce da doença, justamente porque esse dado está correlacionado à uma maior gravidade do quadro. A maior parte dos casos começa antes dos 5 anos, mas somente uma parcela destes persiste na idade adulta.
O diagnóstico ainda pode requerer exames de sangue, cujo resultado é utilizado na associação clínica das manifestações, e não como marcador exclusivo da doença.
Formas de tratamento
O manejo da dermatite atópica envolve três pilares: hidratação da pele; controle do ambiente para afastar os fatores irritantes e desencadeantes; controle medicamentoso das inflamações. Contudo, não há recomendações padrão, o tratamento é individualizado e as prescrições são feitas com adequação às condições de cada paciente.
O primeiro passo é conscientizar o paciente e sua família sobre a cronicidade da doença e a importância do autocuidado. Quando as orientações médicas são seguidas à risca, a melhora do quadro é evidente, o que representa um resgate da qualidade de vida do paciente, além de ser um resultado gratificante para o profissional que o acompanha.
A hidratação da pele é uma conduta imprescindível na prevenção e no controle da dermatite atópica, pois permite o restabelecimento do barreira cutânea. O tipo de hidratante a ser utilizado depende muito das possibilidades do paciente, visto que existem produtos bem elaborados e de alto custo, assim como há opções mais acessíveis que também podem surtir o efeito esperado.
Além da hidratação contínua, várias orientações são importantes para evitar os irritantes da pele. O banho, por exemplo, é um momento que requer cuidados, o que inclui: evitar banhos longos e água muito quente; não usar esponjas de banho; utilizar preferencialmente sabonete líquido e com pH neutro. Inclusive, existem loções específicas e gel de limpeza que preservam a barreira de gordura protetora da pele.
Quanto ao vestuário, recomenda-se tirar a etiqueta das roupas, visto que o atrito constante pode agredir ainda mais a pele, assim como alguma parte da costura — são apenas detalhes, mas que podem levar ao ato de coçar e dar origem ao eczema.
Também é importante: lavar a roupa com sabão neutro; retirar o excesso de sabão durante o enxágue; evitar o uso de amaciante; preferir tecidos de algodão aos sintéticos, para que a pele respire melhor; evitar roupas muito apertadas.
Para o controle do ambiente, é necessário reduzir a exposição aos aeroalérgenos quando o paciente apresenta sensibilização com evidência clínica. Isso inclui medidas de adequação na casa para diminuir a quantidade de ácaros, fungos e outros fatores que possam exacerbar a dermatite.
A mesma precaução vale para os casos confirmados de dermatite associada à alergia alimentar, sendo necessária a retirada do alimento que provoca as reações. As dietas de restrição, somadas às outras limitações e sintomas desagradáveis da dermatite atópica, representam uma dificuldade a mais enfrentada pelo paciente.
A hidratação correta da pele, conjuntamente ao cumprimento das orientações de autocuidado e ao controle do ambiente são medidas eficientes na dermatite atópica leve. Nesses casos, pode ser necessário o uso de corticoide tópico no tratamento de eventuais lesões.
Os corticosteroides reduzem a inflamação e a coceira. Anti-histamínicos orais também podem ser recomendados, como adjuvantes no tratamento do prurido.
Os casos de maior gravidade podem requerer corticoides de uso sistêmico e até tratamento com imunossupressores. O acompanhamento multidisciplinar também é necessário para os pacientes com dermatite atópica grave. Para isso, trabalham em parceria: médico alergista e imunologista, dermatologista, nutricionista e psicólogo.