O aborto é caracterizado pela interrupção da gestação antes de 22 semanas de desenvolvimento do feto, quando ele pesa menos de 500 gramas e não tem condição de sobreviver fora do útero. Após dois abortos seguidos, a condição já é considerada aborto de repetição.
Esse é um problema comum entre as mulheres, tanto em gestações naturais quanto pela reprodução assistida. Apesar da possibilidade de ocorrer em qualquer momento da gravidez, o risco de aborto é muito maior nos primeiros três meses de desenvolvimento do feto, quando ele está se formando.
O abortamento de repetição (perda gestacional recorrente) pode gerar diversos traumas para o casal que tanto sonha com a gravidez, por isso é necessária uma atenção especial a este assunto, buscando todas as alternativas que possam minimizar as chances de ele acontecer.
Os dois piores fatores prognósticos são idade materna e número de perdas prévias. O risco de perda aumenta drasticamente após 40 anos de idade materna.
Existem diversas causas possíveis para o abortamento, mas alguns exames podem ser realizados antes e durante a gestação para que sejam mínimos os riscos de ele ocorrer.
Quais são as causas do aborto de repetição?
O abortamento de repetição pode acontecer por diversos fatores e, para que essa condição seja evitada, alguns exames devem ser realizados para investigar a origem do problema. Entre as principais causas estão:
Genética
As alterações genéticas são causas frequentes do abortamento de repetição. Quando os embriões formados apresentam mudanças genéticas significativas e que interfiram em seu desenvolvimento, o organismo da mulher tende a eliminá-lo.
Normalmente, a falta de qualidade dos embriões está diretamente ligada à má qualidade dos óvulos e dos espermatozoides. Mulheres com idade superior a 35 anos tendem a apresentar gametas com alterações genéticas. O mesmo ocorre com homens mais velhos, principalmente depois dos 50 anos.
O exame de cariótipo pode ser realizado na amostra do material do abortamento para avaliar se as causas foram realmente genéticas. Quando diagnosticado esse tipo de alteração, é possível que o abortamento ocorra novamente. Por isso, é importante realizar o exame para evitar esta situação.
Síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF)
A relação SAAF e aborto de repetição é bem estabelecida e essa associação deve ser sempre investigada. SAAF é diagnosticada baseada na persistência de anticorpos antifosfolípides e tromboses vasculares/ou complicações da gravidez.
A solicitação dos exames deve ser feita para paciente com história de duas perdas antes de 10 semanas.
Trombofilia
A trombofilia é uma doença que aumenta as chances de desenvolvimento de trombose, quando coágulos se instalam nos vasos sanguíneos e impedem a passagem do sangue.
A doença pode dificultar a implantação dos embriões e influenciar no abortamento. Por isso, são indicados exames de sangue para descartar a possibilidade de a paciente desenvolver a trombofilia.
Fatores imunológicos
Para que aconteça a fixação do embrião no útero, ocorre um processo de inflamação durante a implantação embrionária. Para que haja um equilíbrio nessa situação, alguns fatores são considerados, como a ação das células NK (natural killer). Quando em excesso de atividade, essas células podem provocar abortamentos.
O exame que identifica essa alteração é feito com medicação via endovenosa entre o sétimo e o décimo quarto dia após o início do ciclo menstrual ou dois dias antes da transferência dos embriões. Essa medicação é repetida durante as primeiras 20 semanas de gestação.
Alterações hormonais
Alguns hormônios são essenciais no processo de reprodução e, quando o corpo se encontra em desequilíbrio hormonal, podem ocorrer alterações no organismo que causam o abortamento de repetição.
Existem exames de sangue específicos para avaliar a ação hormonal e são: prolactina, progesterona, FSH, LH, TSH, T4 livre, entre outros. Entre as principais alterações causadas por desequilíbrio hormonal que influenciam no abortamento estão a diabetes gestacional, hipotireoidismo, síndrome dos ovários policísticos (SOP), hiperprolactinemia e a insuficiência lútea.
Alterações anatômicas
Alterações no formato do útero ou malformações congênitas, como o útero unicorno e bicorno, são possíveis causas para o abortamento de repetição. Septos, sinequias, pólipos endometriais e miomas uterinos também podem influenciar no abortamento e causar a infertilidade da mulher.
Os exames indicados para analisar as condições da cavidade uterina e identificar possíveis alterações anatômicas são: a ultrassonografia, histerossalpingografia, histerossonografia e a histeroscopia.
Infecções femininas
Algumas infecções femininas, principalmente no início da gestação, podem aumentar os riscos de abortamento. Podem causar também malformações no feto e complicações após o nascimento.
Por isso, é importante realizar uma avaliação ginecológica antes de tentar engravidar para descartar essas possíveis complicações e evitar o abortamento de repetição.
Fatores masculinos
Alterações no DNA do espermatozoide que fecundou o óvulo podem contribuir para a interrupção inesperada da gestação. Existe um exame indicado nesses casos, feito para avaliar as condições do gameta masculino, o teste de fragmentação do DNA espermático.
Essa condição é comumente associada à idade avançada do homem, o uso de tabaco e drogas e a presença da varicocele, que provoca a dilatação das veias do cordão espermático.
É possível engravidar após abortamentos de repetição?
Existem diversos exames à disposição para mulheres no início da gestação para investigar alterações que possam causar o abortamento de repetição. É importante que a paciente receba o acompanhamento necessário para evitar o desgaste físico e emocional que um abortamento pode causar.
Em casos de mulheres que passam por este problema, o primeiro passo deve ser a investigação da causa dos abortamentos. Com isso, é possível definir uma linha de tratamento dentro da reprodução assistida, que conta com técnicas muito avançadas para ajudar mulheres a alcançarem a gravidez.
A principal técnica utilizada nesses casos é a fertilização in vitro (FIV), que permite uma análise genética dos embriões por meio de uma biópsia. Assim, é possível selecionar os melhores para transferir ao útero e dar início à gestação.
Outras técnicas também podem ser indicadas, como a doação de sêmen ou espermatozoides e, em casos mais graves, a cessão temporária do útero.