Mais de 50% dos adultos sofrem com dor lombar e até 14,7% dos brasileiros se enquadram nos casos crônicos. A dor que se manifesta entre a margem costal e o glúteo é chamada de lombalgia.
Quando o desconforto e a dor irradiam para os membros inferiores, trata-se de lombociatalgia e essa condição pode ser causada por hérnia de disco, estenose de canal vertebral, entre outras etiologias.
A lombociatalgia é a manifestação de dor lombar juntamente à dor que acompanha o trajeto do nervo ciático. Os segmentos L4, L5, S1, S2 e S3 da coluna lombossacra formam o nervo ciático, que se inicia no final da coluna, passa pela musculatura glútea e pela parte posterior da coxa. Na altura do joelho, o ciático é dividido em nervos fibular e tibial.
Dor de origem neuropática, a lombociatalgia é mais intensa que a lombalgia inespecífica e está associada a patologias de maior gravidade, bem como a prejuízos à qualidade de vida do paciente — com impactos físicos, emocionais, funcionais e econômicos.
Entre os sintomas dolorosos que mais afetam o ser humano, a dor lombar é uma das principais, sendo possivelmente superada apenas pela dor de cabeça. Apesar de causar desconforto e até interferir no desempenho das atividades diárias, muitas pessoas convivem com a dor, enquanto postergam a consulta com um especialista.
Pacientes com lombalgia aguda podem se recuperar no decorrer de algumas semanas. Entretanto, a cronificação ocorre em boa parte desses casos, tornando os sintomas mais dolorosos e o tratamento dispendioso. Sendo assim, a atenção às manifestações do quadro e a busca por acompanhamento médico precoce são as condutas mais apropriadas.
Principais causas de lombociatalgia
As dores lombares podem decorrer de patologias de naturezas diversas — inflamações, infecções, traumas e lesões, doenças degenerativas, problemas congênitos, neoplasias, entre outras condições. A lombalgia inespecífica, ou idiopática, é a apresentação inicial do quadro e alguns fatores contribuem para as taxas de cronificação.
Erros posturais, realização constante de trabalhos pesados, falta de ergonomia para desempenhar as atividades laborais, obesidade e sedentarismo são alguns exemplos de uso inadequado ou excessivo das estruturas da coluna, e que podem desencadear ou agravar as dores lombares.
Nos casos de lombociatalgia, a expansão da dor pelo trajeto do nervo ciático pode ser causada por uma radiculopatia (doença da raiz nervosa que sai da coluna), bem como de compressão ou inflamação do próprio nervo.
Alguns dos quadros que provocam a dor lombociática são: hérnia de disco; estenose de canal vertebral; protrusão discal; síndrome do piriforme; síndrome pós-laminectomia — nesse último caso, a dor aparece justamente após a realização de cirurgia lombar.
Sintomas associados à lombociatalgia
As manifestações de lombociatalgia podem ser episódicas, recorrentes ou persistentes, o que depende da gravidade do quadro e do tipo de morbidade relacionada. Nos casos mais sérios, a dor persiste tanto durante o esforço físico quanto nos momentos de repouso, com possíveis variações de intensidade.
Além da dor que pode se estender desde a lombar até o pé, são comuns sintomas como pontadas, queimação na região lombossacra e na parte anterior das coxas, sensação de dormência e formigamento.
Redução dos reflexos e fraqueza motora também são manifestações conjuntas à lombociatalgia. Alguns pacientes relatam o agravo da dor mediante o esforço para tossir ou espirrar. Disfunções urinárias e intestinais (síndrome da cauda equina) são raras e exigem avaliação cirúrgica.
A avaliação da distribuição da dor e das demais apresentações clínicas ajuda a identificar a raiz nervosa comprometida e sugere o diagnóstico do quadro associado à lombociatalgia.
Avaliação diagnóstica
Na investigação clínica, são observados aspectos como: localização, intensidade e tipo de irradiação da dor; sintomas gerais coexistentes; tempo de evolução das manifestações; fatores de precipitação e de alívio da dor (relação com esforço ou repouso).
O exame físico passa por avaliação estática e dinâmica, manobras de provocação, observação da marcha, palpação da coluna e inspeção dos pontos-gatilho miofasciais. A investigação neurológica considera elementos como sensibilidade, motricidade e reflexos.
Entre os testes aplicados estão: flexão e extensão da coluna lombar; manobra de Valsalva; manobra de Lasègue; teste de elevação da perna estendida; sinal das pontas; entre outros.
Os exames complementares são solicitados conforme os resultados da anamnese e dos testes físicos. Os métodos de investigação por imagem também ajudam na exclusão de outras condições, como tumores, infecções e fraturas. Radiografia da coluna, tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética são as técnicas diagnósticas utilizadas para confirmar a etiologia da lombociatalgia.
Formas de tratamento das lombociatalgias
O tratamento da lombociatalgia crônica visa a melhora na qualidade de vida dos pacientes, por meio da redução da dor e da recuperação ampla das atividades funcionais, sobretudo nos casos de incapacitação.
O êxito do tratamento depende da precisão do diagnóstico, bem como da individualização da conduta terapêutica. Além disso, é essencial que o paciente colabore e siga corretamente as orientações médicas para solução e/ou adaptação ao problema, prevenindo novas crises.
O plano elaborado considera, portanto, a definição do tratamento mais adequado a cada paciente, farmacológico ou cirúrgico, assim como o fisioterápico, com a recuperação funcional, analgésica e fortalecimento da região afetada e R.P.G., incluindo, nesse caso, também os exercícios que podem ser adaptados à prática do cotidiano, em atividades de trabalho, domiciliares ou de lazer.
Quiropraxia e acupuntura estão ainda entre as práticas que podem ser adotadas, com bons resultados em muitos pacientes.
Para a intervenção farmacológica, entre os grupos de fármacos recomendados estão anti-inflamatórios, anticonvulsivantes, antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos de receptação de serotonina e noradrenalina (ISRSN), lidocaína e opioides.
Embora geralmente seja a opção mais indicada para o tratamento das lombociatalgias, a intervenção cirúrgica é prescrita quando o paciente apresenta limitação severa decorrente do problema e do quadro clínico associado, ou quando não há respostas satisfatórias ao tratamento medicamentoso e fisioterápico.
Assim, a cirurgia fica em segundo plano, indicada para pacientes que possuem dores muito incapacitantes não aliviadas pelo tratamento farmacológico, perdas funcionais que impeçam o exercício de atividades do dia a dia, ou quando há a associação de sintomas sugestivos de Síndrome da Cauda Equina, com sua relação causal confirmada por exames de imagem.
A Síndrome da Cauda Equina provoca uma redução importante do controle dos esfíncteres urinário e fecal, associada aos demais sintomas característicos das lombociatalgias.
Apesar de existirem todas essas possibilidades, é indicado realizar o acompanhamento com um profissional médico especializado quando se há suspeita de lombociatalgias. Isso possibilita as intervenções precoces e um melhor prognóstico para o paciente.