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Endometriose: diagnóstico e tratamento

Por: Dra. Fabrícia Leal Zaganelli

A endometriose é uma condição ginecológica caracterizada pelo implante ectópico (fora do lugar normal) das células endometriais. Na tentativa de eliminá-las, o corpo desencadeia uma reação inflamatória crônica, a qual está relacionada aos principais sintomas e complicações da doença, como a infertilidade.

Os estudos mostram que cerca de 10% a 15% das mulheres são diagnosticadas com a endometriose ao longo da vida. Em alguns casos, elas não apresentam nenhum sintoma (assintomáticas) e são diagnosticadas na avaliação de outra suspeita clínica. Em muitos outros, porém, as queixas existem e podem ter intensidade desde leve até incapacitante.

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O diagnóstico da endometriose

O diagnóstico da endometriose é considerado desafiador. Alguns estudos mostraram que ele pode demorar mais de 5 anos após o início dos sintomas. Afinal, as pacientes e muitos médicos não fazem uma associação dos sintomas explicados acima com a doença.

Além disso, os exames não-invasivos (como ultrassonografia pélvica e ressonância magnética) podem não identificar algumas formas da doença, como a endometriose peritoneal superficial.

Entretanto o diagnóstico da endometriose é muito importante e deve ser realizado o mais precocemente quanto possível. Afinal, sem o acompanhamento adequado, podem surgir complicações para a fertilidade feminina com o avanço das lesões e da inflamação pélvica provocada por ela, como:

  • Aderências pélvicas que distorcem a anatomia das estruturas e órgãos da pelve. Isso pode resultar também na dificuldade de operar as lesões;
  • Comprometimento da reserva ovariana e, em casos mais graves, falência ovariana prematura;
  • De acordo com a localização (como os sistemas urinário e digestório), os implantes ectópicos podem causar sangramentos contínuos, levando a quadros anêmicos. Portanto, é necessário realizar uma profunda investigação com exames de maior complexidade e invasividade para localizar mesmo as lesões mais difíceis de identificar.

O exame inicial mais comum a ser indicado é a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal (ultrassonografia especializada para endometriose). Apesar de ser simples e apresentar um custo-benefício excelente, ela apresenta boa sensibilidade e especificidade para identificar diversas formas de endometriose, como a peritoneal profunda e os endometriomas (cistos de endometriose no ovário).

A ressonância magnética também pode ser requisitada como primeiro exame. Contudo, devido a seus custos, ela pode ser um complemento para a ultrassonografia quando ela não encontrar lesões ou ela não for conclusiva. Infelizmente, assim como a ultrassonografia, a ressonância não tem uma sensibilidade adequada para as lesões superficiais.

Exames para endometriose

Por isso, apesar de a ultrassonografia e a ressonância serem bastante eficientes, algumas pacientes precisarão da videolaparoscopia para a identificação das lesões. Esse procedimento pode ser realizado tanto com finalidade diagnóstica quanto terapêutica. Na endometriose, o mais comum é que o médico a realize na modalidade “see and treat”, “ver e tratar”. Ou seja, à medida que ele visualiza as lesões, ele também as retira.

No entanto, nem toda a paciente com suspeita de endometriose e resultados negativos nos exames não-invasivos precisará da videolaparoscopia. Caso ela não tenha desejo de engravidar e seja assintomática ou responda bem ao tratamento clínico empírico (sem diagnóstico confirmado), a cirurgia minimamente invasiva pode ser dispensada ou adiada.

O tratamento da infertilidade pela endometriose

Nas terapias de reprodução assistida, a endometriose também é desafiadora. Afinal, ela impacta negativamente em diferentes pontos da fertilidade feminina desde a fertilização até a nidação. Alguns estudos mostram que ela pode comprometer também os resultados da gestação, aumentando o risco de gestações ectópicas, abortamentos e partos prematuros.

Por esse motivo, o plano terapêutico deve ser individualizado para cada mulher após uma extensa investigação. Ele deverá em consideração os sintomas, a identificação de endometriomas, o acometimento intestinal e a história de tratamentos prévios.

Diante disso, há casais que terão um melhor prognóstico de sucesso na gestação com cirurgia, enquanto outros, com fertilização in vitro. Nada impede também que esses tratamentos sejam complementados um com o outro:

  • caso a terapia inicial seja a cirurgia, uma medida muito importante é a preservação da fertilidade feminina pela criopreservação, sobretudo no caso dos endometriomas. Toda a cirurgia de manipulação da pelve pode desencadear a infertilidade como complicação. O risco é menor com as técnicas minimamente invasivas (videolaparoscopia), mas ainda existe;
  • da mesma forma, caso se inicie com a fertilização in vitro, a cirurgia poderá ser realizada diante da inefetividade dos ciclos.

Até alguns anos, a cirurgia era praticamente uma regra nos casos de infertilidade relacionada a endometriose. Esse cenário vem se modificando com:

  • O avanço dos métodos de reprodução assistida (com taxas de sucesso maiores);
  • As evidências de que a relação de risco-benefício da cirurgia em relação à fertilidade não é tão favorável quanto se pensava;
  • Levando em consideração o risco de pacientes com endometriose apresentarem lesão no tecido ovariano e insuficiência ovariana prematura com a cirurgia, os protocolos mais atuais priorizam a reprodução assistida quando possível no contexto clínico.

No entanto, há alguns casos em que a cirurgia é recomendável devido à intensidade da dor ou à localização das lesões poder trazer complicações funcionais a outros órgãos (como as vias urinárias, os rins e o intestino).

Portanto, a endometriose é uma doença com manifestações muito variadas. Para o diagnóstico e o tratamento precoces, é muito importante que você conte com um profissional experiente e capacitado. A medicina reprodutiva pode ser um importante auxílio para as mulheres com queixas de infertilidade.

Quer saber mais sobre a endometriose e seus impactos na saúde da mulher? Então, não deixe de ler este post sobre o tema!

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